Nos tempos modernos, dado o atraso estrutural em que Portugal ainda se encontra, comparativamente com o resto da União Europeia, os movimentos associativos e de cidadãos, devem assumir uma postura mais enérgica e focada na valorização da condição humana, através por exemplo do enriquecimento das competências, que se podem alcançar na ocupação dos tempos livres, pelo treino e formação, são aspectos fundamentais, capazes de nos permitir gerar e manter patamares de desenvolvimento, tendo por fim o bem-estar e riqueza social.
Mal ou bem, a rapidez com que hoje as coisas da tecnologia evoluem, obrigam-nos a uma permanente dedicação ao estudo e ao trabalho, nada é mais como antes.
Hoje nem os mais hábeis e capazes engenheiros de há 20 ou 40 anos atrás, jamais imaginariam que um dispositivo analógico como o rádio, se viesse a tornar num componente de software o SDR. Quem nos diria então que uma antiga estrutura mecânica ou máquina de estados fosse hoje mero firmeware e software suportado por pequeníssimo mas complexo hardware electrónico de milhares de componentes. Muitos dos modernos utensílios são pura electrónica digital, das comunicações às máquinas, dos veículos às ferramentas e aplicações de trabalho e lazer.
Muitas coisas para o lazer são importantes, designadamente o convívio social e intergeracional, ou ainda a procura e manutenção de estilos de vida saudável, onde a Natureza desempenha um papel fundamental, de tranquilidade, ou ainda, para os mais competitivos e activos, as práticas do desporto não formal e amador. Outras coisas relativas com recreio, prazer e lazer, até poderão, dependendo das práticas, ou dos excessos, poderão ser nocivas à saúde e harmonia social e familiar.
Aquilo que aqui queremos reflectir, tem a ver com o treino e qualificação.
Considerar que o saber e as competências exigem para quem quiser ter sucesso profissional, uma dedicação permanente e regular, de estudo e práticas. Pelo que, perder-se tempo com futilidades, se torna cada dia mais arriscado e prejudicial a cada um de nós, individual e colectivamente. Considerando que nos pudemos recrear com o estudo e trabalho, voluntário e útil. Basta que cada um de nós, procure formação numa actividade que se goste verdadeiramente e através dela, se sinta realizado e integrado, mas nem tudo será só e apenas isso, o trabalho. Como em tudo na vida, também o trabalho carece de balanços e equilíbrios fundamentais. Nós e a família, os amigos também, a comunidade em certa medida.
O sentido desta mensagem, é revelado pelas imagens em cima, onde pais, professores e profissionais, num conjunto de acções educativas, transferem entre diferentes gerações, saberes e conhecimentos que outrora nos eram ministrados por vias directas, mediante tarefas e profissões já quase extintas.
Despertar numa criança, a atenção e o gosto pela capacidade funcional e técnica, capaz de a conduzir ao aprofundar do conhecimento científico, carece de uma coisa essencial, de tempo e de espaço (instalações) que as organizações não dispõem no concelho de Oeiras.
Do tempo que ainda dispomos, do espaço que ainda não existe:
Sabemos que as actuais estruturas associativas do concelho de Oeiras, remontam aos séculos XIX e XX, na generalidade dos casos ao antigo colectivismo das sociedades recreativas dos finais do século XIX ao primeiro quarto do século XX, entre os anos de 1870 a 1940, quanto muito aos anos de 1960. Um modelo ocupacional que se esgotou e desactualizou. Quando os apelos pela cultura e formação, pelo treino e ocupação dos tempos livres são outros, e bem mais exigentes.
Falamos de 2008, da primeira década do século XXI, um período civilizacional que bem ou mal, acelera e decorre tão rápido, que quase não o pudemos alcançar nem recuperar.
Significa que, as modernas políticas da gestão local e autárquica deverão ser conduzidas por espíritos modernos, animados de medidas arrojadas, socialmente balanceadas e contemporâneas.
Está comprovado que o presente modelo económico centrado no betão através do eterno endividamento das famílias à banca, não é susceptível de produzir e distribuir riqueza para todos, minimiza as pessoas, explora as famílias, tornando-as reféns do sistema consumista que muitos desejam manter inalterável.
Em alternativa, temos de apostar na economia do conhecimento, na formação e na qualificação é de todos, através de modernos serviços e industrias, dotados de meios materiais e estruturas técnicas, centrados na mão-de-obra altamente qualificada e treinada, de molde a ser competitiva e capaz de produzir e converter riqueza, baseada na sustentabilidade económica e civilizacional de cada povo.
Aos jovens, devem ser conferidos espaços de valorização pessoal, ao invés de mera recreação, sem base social, que incorre muitas vezes, na ilusão, em estilos de adição e de risco, para gáudio e riqueza de alguns, e, desgraça de todos os outros.
Na verdade, quem aqui nasceu, cresceu e sempre viveu no concelho, pela experiência de vida, pelo legado familiar, social e cultural, pode avaliar que durante mais de 75 anos, ao arrepio do progresso e da evolução do mundo moderno, todas estas sucessivas gerações de crianças e jovens (hoje avós e pais) que são nascidos e residentes no concelho de Oeiras (entre 1930 e 2008) continuam a não dispor mais do que, de vulgares e escassos espaços para se jogar uma bola, embora existam piscinas públicas, colectividades de desporto, folclore e recreio, espaços de arte e cultura, até carreiras de tiro, mas para quem prioriza outros temas, outras culturas e disciplinas, não dispõe de alternativas.
Neste domínio do educativo e da cultura científica, nada funciona, nem ao abrigo das novas medidas consubstanciadas na criação da Rede Social, onde organismos púbicos e privados (autarquia, organismos e colectividades) deveriam partilhar infra-estruturas, auxiliando ao desenvolvimento.
Faz mais de 25 anos, que sucessivos movimentos de munícipes apelam e suscitam estes assuntos recorrentemente junto da autarquia, mas nunca serviram de nada, à excepção de mais crispação, exclusão e ostracismo. Não há argumentos suficientemente fortes, que demovam alguns políticos desta linha populista, de menor pendor social e educacional.
Precisamente, para se arrepiarem todas estas tendências de enviesamento social e educativo, foi criado recentemente o conceito de Rede Social, que afinal de contas não funciona.
É determinante a criação de espaços multiculturais e interdisciplinares, espaços partilhados, espaços reabilitados ou construídos de novo, mas que sejam capazes de integrar e ajudar a promover as iniciativas dos cidadãos, é um direito activo, e constitucional que lhes assiste.
Em 75 anos, em todo o concelho de Oeiras, apenas foi criado um único Centro de Juventude, mais recentemente diversas ONG do concelho, celebraram em 2004 protocolos com a autarquia, tendo por fim a criação de uma rede de estabelecimentos destinados a todas as «juventudes» localizadas nos outros espaços do imenso território do concelho.
Ocorre que esses protocolos, não foram cumpridos por parte da autarquia, designadamente com a AMRAD, que depois de Março de 2007 se viu impedida de prosseguir as actividades no Centro de Juventude Oeiras.
Em boa verdade, os modernos modelos de educação, ocupação de tempos livres, treino, formação e qualificação de crianças e jovens, dos pais e cidadãos, tal qual como há 75 anos atrás, ainda hoje não existem.
Mais preocupante é dar-se a ideia de que nem sequer são considerados espaços e culturas necessárias (são coisas marginais …) ao ponto de serem liminarmente impedidas de funcionar, através de medidas e restrições veladas (impostas à margem da Lei e da Constituição, sem qualquer tipo de fundamento legal). Ou ainda, que os poucos espaços existentes, e que se podem reabilitar, são depois atribuídos a organismos exteriores, sedeados em outros lugares fora do concelho de Oeiras.
O que poderão fazer os munícipes, as crianças e jovens que ao lado dos seus avós, irmãos, primos e amigos, teimam em não frequentar pasquins, em não sustentarem estilos de vida de risco, em não beber álcool, em não fumar, em não jogar matraquilhos nem jogos de azar e sorte, ou que insistem em não querer nem gostar de ver e jogar a bola, ou aqueles que não possuem rendimentos para pagar o acesso a piscinas e health-clube para prática de natação ou ginásticas de manutenção. A todos esses, apenas lhes poderão restar as ruas e os passeios urbanos para caminharem nas manhãs e tardes do fim-de-semana.
O Progresso não é um favor dos políticos, é um dever dos Cidadãos !
A ausência destas infra-estruturas de integração e protecção de crianças e jovens nos tempos livres, em confronto com os problemas familares e sociais que emergem, perante os modelos de centralidade urbana, poderão resultar em complexas situações de comportamentos aditivos e de risco:
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