O Radioamadorismo nasce e ocorre dentro de uma matriz de culturas, pleno de diversidade e competências, onde através das industrias e outros meios técnicos associados, muitos amadores ao longo de décadas e gerações, conferiram importantes contributos à ciência e tecnologia, criando e estudando novas aplicações, que se banalizaram, e, são hoje, um tremendo sucesso económico e tecnológico, por vezes tragicamente ignorado e arrepiado por alguns amadores, mais focados no lado desportivo e competitivo desse mesmo radioamadorismo.
Os tempos mudaram, e talvez seja importante recordar, que durante décadas e até aos anos de 1960 e 70, o radioamadorismo era exercido por amadores que construíam integralmente os seus equipamentos, inclusive partes dos componentes eléctricos e radioeléctricos. Para esses amadores pioneiros dos primeiros três quartos do Século da Rádio, a raiz da sua intervenção era estudar, construir e explorar o meio radioeléctrico, os equipamentos emissores e receptores, as antenas e as linhas de transmissão, mais do que os dois serviços a que tinham acesso, e que eram a radiotelefonia e a radiotelegrafia. Foram inegavelmente os tempos de ouro da Rádio, em todo o mundo.
Para nos situarmos, entre as menos de 400 estações de amador que funcionavam em Portugal até 1970 ou pouco antes do 25 de Abril de 1974 (época que marcou uma mudança significativa, em virtude das descolonizações em África), eram só cerca de 30 a 40 estações portuguesas que estavam habilitadas a operar em frequências acima dos 144 MHz, e raramente excediam os 144, 425 MHz, exploravam apenas os primeiros 500 kHz da faixa de 144 MHz. Onde ocasionalmente CT1AB e CT1ST faziam um full duplex para os 145 MHz, emitindo e recebendo abaixo e acima desta frequência central da banda dos 2 metros, um verdadeiro feito da época. Ninguém operava em FM (frequência modulada ou F3E) nem existiam retransmissores de VHF ou sequer de UHF.
Desses 40 amadores chamados de «2 metristas» só cerca de 5 ou 6 estações exploravam a faixa de 432 MHz. Transmitiam com emissões de AM (modulação de amplitude ou A3E) e CW (telegrafia ou A1A). Contudo já 3 estações tinham iniciado emissões em AM na frequência de 431,250 MHz mas ao invés de emitirem em fonia, faziam-no com imagens a preto e branco de televisão, falamos de CT1IH e CT1ZX, precedidos de CT1NB o pioneiro absoluto da televisão em Portugal, que se tinha iniciado nestas emissões pouco antes da RTP, no ano de 1954.
Foi CT1ON (ex. CT1WW) que no ano de 1971 e durante o 1º Colóquio de VHF que decorreu na Lousã, sob o patrocínio de CT1MX da «Tertúlia Guilherme Marconi» de Coimbra e organização do «Novice Gang VHF of Lisbon» (porque eram proibidas as associações de radioamadorismo) um grupo de estudantes, composto por CT1BM, CT1DL, CT1QP, CT1WO, CT1WV, CT1XI, CT1ZO, CT1ZX, CT1ZK e ainda CT1OB e CTØ320 reuniram quer os veteranos, quer os jovens amadores de então, naquele tempo eram todos membros filiados da REP, que se juntaram em conjunto com figuras ímpares do Radioamadorismo português, com o fim de analisar, interpretar e debater questões técnicas, suscitadas pela introdução do FM nas emissões dos amadores que operavam nas faixas de frequência acima de 144 e 430 MHz.
Alguns anos depois, nos anos de 1975 e seguintes é que surgem os primeiros emissores receptores comerciais, ainda controlados a cristal e que permitiam operar na faixa dos 2 metros. Foi quando CT1EJ, CTBM, CT1ZX e CT1XI, em parceria com outros colegas de então, construíam os primeiros repetidores de amador, que permitiram operar em FM nas faixas de VHF, repetidores instalados na Arrábida e Montejunto, seguidos do Alto da Brenha em parceria com um grupo de amadores da Figueira da Foz, CT1XN, CT1ZB e outros colegas, e ainda, o primeiro retransmissor de UHF instalado em 1977 na Serra da Estrela, o RUØ uma construção de CT1ZX e CT1XI.
A este propósito, do estudo e da construção, da investigação e da integração, do treino e da formação, da exploração da coisa radioeléctrica, mais que da própria comunicação, vimos regressar ao radioamadorismo tecnológico, passados mais de 35 anos, dois colegas e amigos de então, referimos quer Moisés Piedade (CT1ZO) quer Carlos Neta (CT1ZK) ambos investigadores, docentes universitários, profissional de engenharia e catedrático com centenas de trabalhos científicos publicadas.
Apraz registar que todo esse grupo de jovens estudantes de 1960 e 1970, estão de novo todos reunidos, em torno desse modelo de Radioamadorismo, que os formou, treinou e ensinou a ser amadores e cidadãos, alguns já jubilados, mas todos dispostos e empenhados em trabalhar no projecto que criaram, reinventaram, com a fundação da AMRAD em 2001, com o apoio de outros jovens e gerações recentes, um legado com continuidade, na defesa desse Radioamadorismo de outrora, felizmente que ainda é observado e seguido por muitas centenas de outros amadores portugueses e que seguramente, os novos graus de qualificação irão ajudar a defender e preservar. Todos estamos de parabéns, amadores e radioamadorismo.
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