Rememorando o Radioamadorismo português

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O Radioamadorismo português ocupou um papel de excelência social e educativa, cultural, tecnológica e científica, que se tem vindo a esfumar na letargia (estado de apatia moral ou intelectual) e no facilitismo que lhe foi estruturalmente imposto nos últimos 25 anos, designadamente por alguns grupos radicais, dominadores do movimento associativo e dos incautos.

Diferentes factores estão na origem desta sucessiva desacreditação, por um lado, a progressiva facilidade com que cada leigo (estranho ao tema, e sem motivação para aprender …), compra e coloca em funcionamento uma estação radioeléctrica capaz de receber e também de emitir sinais de rádio, em qualquer segmento de banda ou frequência, e a banalização que lhe atribuíram, denominando-se de «radioamador», termo que nem sequer é reconhecido nos termos das definições legais, atribuídas pelas autoridades internacionais e administrações das radiocomunicações.

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O ridículo de tudo, é que qualquer coisa capaz de transmitir, seja ela nas faixas do serviço rádio pessoal, que não carece nem de licença nem de qualificação para operação, conhecido por CB (Citizen Band), ou nos novos segmentos atribuídos aos PMR (Personal Mobile Radio) são logo sabiamente convertidos, não em serviços de radiocomunicações pessoais e privados, mas em mais bandas de concursos de desporto dos auto-denominados por rádios-amadores ou radioamadores.

Em consequência, a generalidade daqueles que dedicaram toda uma vida ao estudo, à auto-aprendizagem das ciências e tecnologias radioeléctricas, sem fins lucrativos, tem-se vindo a demarcar dos termos populistas (daquilo que se orienta pela via da obtenção da simpatia popular, através de medidas que agradem sobretudo às classes com menor cultura e menos vontade de estudar e aprender …), evitam ser reconhecidos e mesmo chamados por radioamadores (um neologismo de origem anglo saxónica), embora aceitem e reconheçam que fazem Radioamadorismo, mas consideram-se apenas amadores de Rádio.

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Esta introdução é uma triste constatação, se a cruzarmos transversalmente com o presente panorama ligado ao movimento associativo e federativo (ausente) em torno do verdadeiro termo e da actividade do Serviço de Amador e Amador por Satélite, ou do radioamadorismo da auto-aprendizagem, do serviço cívico e público, da educação e cultura tecnológica, da ocupação de tempos livres, até do desporto e da competição, que a recente evolução da indústria electrónica e radioeléctrica veio proporcionar aos mais comunicativos, aos menos conhecedores, montadores e construtores da coisa eléctrica.

O triste é, verificar que com o surgimento de pequenas medidas legislativas, criadas pelas administrações europeias, a CEPT (European Conference of Postal and Telecommunications Administrations) com que se pretendem moralizar e regular essa actividade, a dos postos emissores de amador, no sentido de conferir adequados graus de qualificação aos operadores amadores de rádio, suscitou logo, nessa massa populista, uma reacção adversa, na medida em que, muitos pretendiam crescer no meio, sem serem sequer qualificados, nem comportarem nenhumas competência adequadas. Numa incompreensível luta pela ascensão a classes. Sabendo-se que, para tantos, entre esses, lhes bastariam dispor de meios financeiros (capacidade para comprar rádios e mandar instalar estações e antenas …) para assim se lançarem nessa exploração desmedida de todo o espectro e meios radioeléctricos, sem possuírem a menor capacidade e conhecimento para o fazerem. Outros ganhando dinheiro e prestígio populista, na troca de diplomas, postais e troféus, que resultam de competições e temáticas desportivas, algumas mergulhadas em profundo egocentrismo e individualismo, quando liminarmente esses mesmos, recusam e contestam, os imperativos nacionais, de participar e colaborar em tudo o que se relaciona com prestação cívica e desempenho de manifesto interesse público e comunitário, imposto pelo individualismo (sistema de isolamento dos indivíduos na sociedade, que faz prevalecer os direitos do indivíduo sobre os da sociedade), lugar onde o egoísmo não deverá ser premiado.

Discutem-se hoje, as formas de acesso, a actividades e disciplinas, sem se pretender saber exercer essas mesmas práticas. Algo caricato, tal como querer mergulhar sem saber nadar, ou pilotar aviões, sem se estar qualificado, não se saber física nem meteorologia, nem mesmo pilotar esse modelo de aeronave, entre outras aberrações populistas, despidas de sentido cívico, ético e mais grave, consciência e noção rudimentar da coisa.

Nunca nos apercebemos de um radioamador (empregando o termo corrente) que estivesse agora, mais do que nunca, empenhado e ou preocupado, em saber qual a associação portuguesa de radioamadorismo, estruturada e capaz de lhe permitir frequentar cursos de qualificação, de aprendizagem tecnológica e operacional, seja qual for a disciplina a tecnologia, ou o modo de serviço ou transmissão que pretende aprender para se qualificar e progredir nos graus de competência necessária à sua actividade como amador de rádio, seja qual for as disciplinas e temáticas, em termos da sua opção e gosto pessoal.

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Com tudo isto, temos visto que nos últimos 30 anos, a excelência dos Amadores de Rádio, que não se revêem há muitos anos no actual radioamadorismo, abandonam as associações a que sempre se devotaram, uns porque foram ostracizados, humilhados e até expulsos por grupos extremistas do DX e radicais do desporto, outros, porque nada daquilo significa mais o outro radioamadorismo visto à luz da cultura e do sentido cívico, algo de motivador e prestigiante, enquanto cidadãos empenhados no verdadeiro e incessante processo cívico e cultural da auto-aprendizagem que o Radioamadorismo universal lhes potencia e suscita.

Em consequência:

Dos mais de 5.500 cidadãos nacionais e estrangeiros titulares do CAN (Certificado de Amador Nacional) verificamos que menos de 10% estão ligado à IARU, e menos de 20% estão associados, nenhum está federado, porque não temos nenhuma federação nacional, embora se tivessem visto crescer a intervenção de um novo movimento associativo, descentralizado e demarcado de Lisboa, cada dia mais capaz e mais empenhado em ser lugar de alternativa estrutural e de serviço público, capaz de fazer jus ao nome e à representatividade que de facto assume e exerce.

Também neste particular, é hora das associações prestarem as suas provas de vida, das mais de 50 ou 60 associações dos radioamadores, deverão restar aquelas que possuem capacidades de afirmação e já começam a ser muitas.

Rememorar o Radioamadorismo português, significa recordar aqueles que se afirmam, pelo seu sentido de congregar, pela sua obra, como tecnólogos amadores.

Muitos de nós, fomos outrora, empenhados e activos membros daquilo que foi em tempos idos, o espaço de junção do Radioamadorismo tecnológico, a antiga Rede dos Emissores Portugueses, em nome desses tempos de 1930 a 1970, e dessa elevação cultural, queremos recordar duas figuras marcantes, Roberto Charters de Azevedo, CT1NB, e Carlos Bettencourt Faria CR6CH (ex. CT1UX).

Na imagem em cima, um cartão de Boas Festas remetido por CR6CH ao CT1NB, nos anos de 1960, uma entre outras relíquias, oferecidas pelo Eng. Roberto Manuel Charters d’Azevedo ao Museu do Radioamadorismo, em criação no concelho de Oeiras, na freguesia de Barcarena, o berço das emissões radioeléctricas e da radiodifusão em Portugal.

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CT1NB foi mestre, amador dedicado, dotado de uma forte capacidade de comunicação, revelada ainda hoje, e que durante a infância de muitas dezenas de jovens amadores emergentes nos anos de 1960 e 1970, ao seu lado, aprendiam a explorar e a operar nas faixas de frequência acima dos 30 MHz, onde apenas operavam em todo o país, cerca de 35 amadores nas bandas de VHF e UHF.

Na imagem de baixo uma justa alusão ao Eng. Ricardo Manuel Monteiro Charters d’Azevedo, CT1KH filho de CT1NB. Foi condecorado em 2004, pelo Presidente da República, Dr Jorge Sampaio, com a comenda de Grão-oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

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Ricardo Manuel Monteiro Charters d’Azevedo, CT1KH também ele outrora, foi um dos muitos destacados dirigentes e associados da REP, de outros tempos do Radioamadorismo nacional, que faz muitos anos deixaram de existir e que nem a Liberdade e Democracia, fizeram renascer ou preservar.

Publicado em História da Rádio, Radioamadorismo