Prova do «esferocarro» é momento de reflexão, do passado ao futuro

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Barcarena viveu hoje um dia diferente, um dia naturalmente dedicado às crianças e aos jovens. Um dia dedicado ao convívio entre habitantes e famílias da freguesia e do concelho. Uma oportunidade para sair de casa, num dia de sol.

Este dia, ou melhor esta iniciativa promovida pela junta da freguesia, poderá ter múltiplas leituras, analisemos uma de três, a saber:

– Para uns, terá sido mais uma jornada desportiva ou de lazer;
– Para outros, é manifestação de empreendedorismo, dinâmica popular e orientação política;
– Para outros ainda, terá sido uma jornada reveladora, sim, mas carregada de muita preocupação social.

Certamente que esta iniciativa será sempre um momento de reflexão para todos. Uma reflexão vista de diferentes pontos, com sensibilidades e competências diversas, amplas, plurais e multidisciplinares.

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Uma reflexão sobre tudo aquilo que ao longo de muitas gerações, Barcarena como freguesia e os seus habitantes como munícipes e povo do lugar, como cidadãos de pleno direito e dever tem vindo a perder. Sabendo que outras coisas poderiam ter sido conquistadas e não foram, pela recusa de quem governou.

Chamam a esta iniciativa do «esferocarro», já realizaram diversas, não importa se com menos participantes, mas esta foi a primeira em que participámos com apenas, algumas das escolas e, algumas das nossas crianças. Participámos com os nossos filhos e netos, com os amigos e vizinhos, porque aqui nascemos, aqui residimos, porque optámos por aqui viver, e para tanto, queremos qualidade de vida e infra-estruturas modernas e adequadas a uma nova sociedade contemporânea e europeia, focada no século XXI.

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Aqui houve convívio, e do popular, com fartos petiscos, comes e bebes.
Também houve frutas, sumos e iogurtes para as crianças. Na procura de outros alimentos e estilos de vida saudável.

O importante, é reflectirmos sobre tudo isto, em termos sociais e culturais, analisar disciplinarmente o outro lado do «esferocarro».

Reflectir sobre o lado educativo e pedagógico que a iniciativa proporciona, ou seja, vista pelo lado em que as escolas, os professores, os agentes educativos, os dirigentes associativos, as instituições e as ONG (sem sedes sociais … politicamente perseguidas, faz mais de 20 anos …), os pais e os encarregados de educação (que são os munícipes locais), e ainda dos alunos das diversas escolas da freguesia e do concelho que nela participaram, possam apreender, possam interpretar da diversão, da competição, do modelo de intervenção, daquilo que afinal de contas vimos e sentimos, sobre aquilo que de facto necessitamos e não dispomos, nomeadamente, dos espaços, dos equipamentos sociais e dos recursos pedagógicos que deveriam estar ao nosso alcance e não estão, porque nos são recusados.

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O «esferocarro» proporcionou de tudo um pouco, convívio, competição, o poder estar ao ar livre (fora dos apartamentos, ou das casas degradada em que temos de viver, sem condições de serem reabilitadas), não numa pista ou num novo equipamento urbano adequado, ou recentemente criado, mas tão simplesmente, numa rua, ampla, de uma nova urbanização emergente, ainda sem trânsito.

Muitos meninos brincaram aqui, numa rua com passeios, porque no seu bairro, essa estrutura urbana nunca existiu nessa sua rua ou travessa da freguesia que ora celebra 173 anos.

Finalmente:

Durante diversas semanas, nos tempos livres e nas aulas extracurriculares de cada uma das suas escolas, estas várias dezenas de crianças, de estudantes e escuteiros, das freguesias de Barcarena, Caxias e Carnaxide, estudaram formas de construção dos seus carros com rodas de rolamentos e esferas, carros feitos em madeira, com o apoio dos seus professores e educadores.

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Em concurso, com o lazer popular, e a diversão, está o trabalho, incógnito, de muitas centenas de Voluntários do nosso concelho, que raramente são apoiados, e muito poucos são reconhecidos pela autarquia, aos seu múltiplos níveis de poder e gestão local. Outros são mesmo perseguidos e expulsos, impedidos de dialogar e mostrar pontos de vista diversos.

Tudo isto, é feito com a finalidade de desenvolver nas crianças, as capacidades cognitivas, as competências funcionais e técnicas, próprias dos materiais empregues e modelos usados.
É aqui que alguns jovens, são despertos para os outros aspectos da cidadania, e com isso, começam a compreender o significado das acções políticas, que contra elas são impostas.

De todo este concurso de ideias e culturas, ou até da simples competição, estes alunos, provenientes das escolas de S. Bruno em Caxias e Manuel Vaz em Barcarena, pela primeira vez, participaram, com o apoio de todos os seus professores, das associações de país, e de outras ONG do concelho de Oeiras, designadamente da AMRAD e da ADADE.

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A EB1 Manuel Vaz formou inclusive uma claque de apoio, para ajudar as suas equipas. Não importa quem ganhou, porque todos participaram, em igualdade de condições, essa é a grande vitória.

Na verdade, esta iniciativa serviu para demonstrar da exiguidade dos meios, e, da falta das infra-estruturas educativas e da ocupação dos tempos livres, que faltam às crianças, jovens e cidadãos barcarenenses, considerando que nesta freguesia, os espaços possíveis, os edifícios existentes, tem sido doados a outros organismos externos à freguesia e ao próprio concelho de Oeiras, sem que as populações locais tenham oportunidades iguais, e possam desfrutar de meios e condições proporcionais.

«Esferocarro» foi assim, um momento de reflexão e de preocupação social, no sentido da acção educativa, da prevenção de comportamentos de risco e adições, e ainda, da falta de meios e de estruturas, alternativas, para a socialização comunitária, fora dos antigos modelos associativos, das tradicionais e seculares colectividades criadas no século XIX.

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Imagens do trabalho da organização, e um dos momentos para premiar.

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